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Textos
Reciclagem pela saúde

Oficina Recicla Tudo é usada com fins terapêuticos no CAPS Perdizes

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O Recicla Tudo é uma das oficinas de geração de renda do Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) de Perdizes. A iniciativa existe há 16 anos e é coordenada pela psicóloga Célia Massumi Tchicava e pela enfermeira Neusa Duque.

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Célia, que trabalha no CAPS Perdizes há 21 anos, conta que a atividade permite a socialização dos pacientes com o bairro e também estimula a humanização.“Nas oficinas eles acabam tendo uma relação com a comunidade, criando uma relação de outra ordem. Não são os doentes da nossa rua, são pessoas que estão em tratamento“, diz.

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O CAPS é um equipamento de saúde para tratamento de pessoas com transtornos mentais graves e tem como finalidade a reabilitação desses pacientes, sendo um método alternativo à internação psiquiátrica.

Atualmente, além do Recicla Tudo, existem outros quatro projetos de geração de renda no local: a oficina da padaria, do brechó, do sorvete (que só acontece no verão) e da decupagem.

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A psicóloga relata que o retorno financeiro da ação de reciclagem não é grande, mas o que tem maior importância é o valor simbólico de fazer os pacientes se sentirem ativos, ajudando no tratamento de forma terapêutica.

 

Como funciona

Toda terça-feira, os trabalhadores, como são chamados os que participam da oficina, se reúnem com as coordenadoras para discutir pautas como segurança no trabalho e organização das atividades da semana.

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As funções são divididas entre os que fazem as buscas na rua e a coleta nos prédios e estabelecimentos da redondeza, os que realizam a separação e armazenamento do material, sendo esse o serviço mais pesado, e os que atuam em ambas posições.

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Eles conseguem arrecadar cerca de R$400 por mês; o valor é dividido proporcionalmente ao tempo trabalhado de cada um. Apesar de ser pouco, para o trabalhador Paulo de Sena é o suficiente para se alimentar à noite e nos fins de semana, já que durante a semana o CAPS fornece café-da-manhã, almoço e lanche da tarde. Ele diz que a prática é boa para passar o tempo. “Quando não tem alguma coisa pra eu reciclar, fica até chato”, comenta.

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O Recicla conta com sete trabalhadores fixos e mais cinco itinerantes, que nem sempre podem estar presentes. O horário de trabalho é bem flexível - e é isso que permite a participação das pessoas, aponta Célia. “Cada um trabalha o que consegue“, afirma. O padrão é uma carga horária variável de no mínimo 30 minutos e no máximo, quatro horas.

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Os fornecedores de material para reciclagem são prédios residenciais e comerciais e restaurantes do bairro. No momento, eles contam com três compradores do material recolhido.

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Plástico, papelão, jornal, garrafa pet, vidro, isopor e papel estão entre os materiais recolhidos.

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Segundo o zelador do Edifício Perdizes, Alexandre Ricardo, antes da oficina o lixo reciclável não era reaproveitado. “Era colocado no lixo comum, aí a gente passou a separar, identificar e mandar”.

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Em todos os prédios que fornecem o material, os moradores estão cientes do projeto e já deixam seus resíduos corretamente separados.

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Ternos da Madrugada 

A banda Ternos da Madrugada também foi uma iniciativa criada com o objetivo de socialização e exercício da mente dos pacientes do CAPS. Há 15 anos, o grupo normalmente se apresenta em eventos ligados ao assunto da saúde mental. A psicóloga do CAPS, Célia Massumi, afirma que a atividade tem fins terapêuticos e os encontros acontecem dentro do centro, “Em alguns momentos consegue-se estar fora do CAPS, o que é mais terapêutico ainda”, conta.

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Geraldo de Andrade, percurssionista do Ternos desde o início e frequentador do CAPS há 20 anos, elogia o projeto. “Eu não fico pensando em besteira, pensando coisa chata. Quando estou no grupo, começo a ter ideia sobre música, pensar em música. Isso me faz tirar as coisas da cabeça, as perseguições”, comenta.

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Hoje, o Ternos da Madrugada conta com sete integrantes fixos e um CD lançado. O disco, composto de músicas autorais, é vendido dentro do CAPS (R$ 10) e tem seu lucro revertido para os próprios participantes.

Mãos femininas que tocam tambor

Ilú é tambor. Oba é Xangô. De Min é a livre tradução para mãos femininas. Ilú Oba de Min é nome em Yorubá que bem descreve o propósito da ONG: o empoderamento feminino através dos tambores. 

 

Localizado no coração da selva de pedra, no centro de São Paulo, pode-se encontrar Ilú Oba de Min - Educação, Cultura e Arte Negra. Filho do bloco Oriashé e idealizado por Beth Beli, Adriana Aragão e Girlei Miranda, o Ilú nasceu em 2004 à partir de uma oficina de tambores de três meses que resultou na instituição e no bloco de carnaval homônimo. 

 

A finalidade da organização é valorizar e preservar a cultura afro-brasileira e africana através de danças e ritmos característicos e fomentar a emancipação e auto-estima da mulher negra através da compreensão da cultura de seus antepassados e de seu protagonismo nas artes.

 

Muitas mulheres viram seu interior e exterior transformados ao entrar na instituição. Entre elas Cleib Aparecida, mais conhecida como Baby que participa do Ilú desde sua formação. Iniciou sua trajetória como aprendiz do tambor, e agora é produtora do bloco e coordenadora de projetos da instituição. Formada em Química e vendedora na área de informática, viu sua vida tomar novos rumos quando há sete anos deixou seu emprego para se dedicar integralmente à ONG e trabalhar na produção cultural.  Além disso, começou a militar pela cultura e pela mulher negra. “Quando eu entro no Ilú eu encontro as minhas referências, encontro a minha história e daí vem a força de lutar para que outras mulheres também sejam empoderadas como eu me sinto”, explica Baby.

 

Ela acompanhou de perto a metamorfose de outra mulher, Ana Lucia Muniz. Analu, como gosta de ser chamada, obteve proficiência em vários instrumentos em uma oficina de bateria de escola de samba. Lá dentro pode experienciar o machismo quando os mestres relutavam em passar os instrumentos mais pesados à ela.  Em 2012, sem nunca ter ouvido falar no Ilú Oba de Min foi acompanhar um ensaio aberto do bloco. “Quando eu olhei aquilo eu não acreditava no que eu tava vendo”, conta maravilhada. Entrou oficialmente na ONG em 2013 e desde então, não largou mais da música. Após trabalhar 30 anos na área de administração de empresas, hoje faz o que gosta, trabalhando somente com percussão no Ilú e em outros dois grupos. 

 

Além do lado profissional, viu sua vida pessoal dar uma reviravolta. Era casada, fazia parte de uma família tradicional de pai, mãe e dois filhos, alisava o cabelo e tinha desistido das questões negras e relacionadas ao feminismo. Hoje se assumiu lésbica perante à família, se livrou das amarras do alisamento e das roupas ditas como “femininas” e diz cheia de orgulho: “eu me aceito”.

 

O objetivo agora é atrair cada vez mais mulheres negras. Baby comenta que a carência de meninas negras é devido às marcantes diferenças sociais. “Ela vai ter que pensar se cabe no orçamento dela entrar, se cabe na disponibilidade porque normalmente trabalha-se mais, se ela tem com quem deixar filho. Parece que não, mas a realidade da mulher branca e da mulher negra ainda são bem distintas”. Algumas ações como o amadrinhamento por integrantes do Ilú e a priorização de vagas para as mulheres negras já estão tendo bons resultados. Esse ano “nem sobrou pra outras etnias”.

 

A instituição visa a conscientização e divulgação da cultura através de projetos sobre a temática da cultura negra. E apesar do foco na mulher negra, mulheres e homens de todas as etnias são bem-vindos nas atividades oferecidas. Algumas das iniciativas são os cursos de dança afro que é a combinação da dança dos orixás; danças brasileiras; dança africana da África do Oeste; toque e dança dos orixás; francês; percussão geral para iniciantes e prática vocal. 

 

Tais oficinas são uma das formas de sustentação da associação. Também são promovidas festas, shows e palestras como meio de arrecadação de dinheiro. Segundo Baby, o Ilú usufrui dos editais de fomento às artes, mas não depende deles. Buscam a auto suficiência através do trabalho da instituição. “A gente sempre deu um jeito de buscar recurso pra cá através de nós mesmas”.

 

De muito renome, a entidade já é conhecida fora do Brasil. As meninas do Ilú fizeram shows na Colômbia e na Bolívia e também uma participação especial em duas faixas do novo CD da Elza Soares. A cada ano que passa sua notoriedade só cresce, e assim aumenta também o alcance ao público-alvo. Mais que uma ONG que visa a educação musical, o Ilú Oba de Min é um lugar de resistência que auxilia mulheres negras a se reconhecerem e se aceitarem em seus antepassados.

 

O bloco

O bloco Ilú Oba de Min, que deu origem à ONG e é uma de suas iniciativas, desfila pelas ruas do Centro de São Paulo consagrando a cultura afro-brasileira, a cultura popular e celebrando o protagonismo da mulher nas artes. 

Durante seus 13 anos de vida, os números só cresceram. Em seu primeiro ano de cortejo, cerca de 200 foliões acompanhavam o bloco. Já em 2018, o festejo chamou uma multidão de aproximadamente 30 mil pessoas. 

A celebração já contou com a participação da homenageada de 2016, Elza Soares, e tem como madrinha a cantora Leci Brandão, além de promover novas caras da música brasileira. 

Somando centenas de integrantes, a intervenção cultural é composta por 300 percussionistas, 32 bailarinas e bailarinos, 10 cantoras e 12 pernaltas. 

A performance carnavalesca que tem base religiosa usando ingredientes do candomblé é mais que uma celebração, é um ato político já que, segundo Baby, “está trazendo uma história ancestral” através da dança, da música e da cultura.

Estilo de vida K-Pop

O Kpop é gênero musical originário da Coréia do Sul que mistura ingredientes do Jpop (Japanese Pop), das tradicionais músicas coreanas fazendo uma fusão com batidas ocidentais dançantes como o rap, hip hop, jazz e rock. O diferencial do pop coreano é a utilização de diversos elementos audiovisuais, como a música, a dança, looks expressivos e videoclipes performáticos.

 

Nascido em 1992, com a banda Seo Taiji and Boys, o Kpop começou a ganhar renome no Ocidente no final dos anos 2000 e, desde então, não para de crescer. Apesar de recente, já faz um grande sucesso em terras tupiniquins. O gênero começou a ganhar popularidade entre os jovens brasileiros em 2015 com a expansão do grupo BTS e da globalização somada ao advento das plataformas digitais. Além de escutarem os hits, os fãs assistem seus videoclipes, imitam as coreografias, procuram se vestir igual aos ídolos com cores mais fortes e cabelos marcantes, experimentam a culinária asiática e acabam tendo contato com um idioma que é totalmente diferente do português. Muito além que a música, o Kpop se torna um estilo de vida. 

 

Moda

As tendências lançadas pelos idols acabam influenciando o estilo dos kpoppers. Abusar nas cores dos cabelos e das roupas e o uso de camisetas das bandas é praticamente um padrão entre os fãs.

 

Jéssica Correa gosta muito de moda e tem pretensão de fazer o ensino superior na área. Por ser um assunto de seu interesse, ela reconhece que o que chama a atenção dela é a forma como eles se expressam através dos looks. Seu estilo de se vestir e o cabelo colorido é inspirado nos cantores que Jéssica mais gosta. “Antes eu era como todo mundo, daí você começa a querer se vestir como eles”, comenta a jovem. 

 

Já Luana Batista, admiradora à sete anos, repete o discurso. Ela descreve seu estilo como “neutro” antes de conhecer os grupos sul-coreanos. Agora, ela gosta de mudar o cabelo com frequência e usar camisetas mais coloridas e de suas bandas favoritas. 

 

Tanto Luana quanto Jéssica assim como vários outros kpoppers procuram se vestir dessa forma para se identificar com os artistas e mostrar que gostam, segundo Patrícia Kazys, que trabalha com a produção de shows de bandas do gênero e é kpopper há nove anos. Com 26 anos, Patrícia trabalha desde os 21 na área de eventos, mas há quatro decidiu focar na produção de shows de Kpop. Viu na sua paixão uma profissão e criou a Far Music Entertainment.

 

Música

O Kpop mistura gêneros do Ocidente, como o rock, jazz, reggae e o próprio pop americano com os tradicionais melodias do Oriente. Normalmente são ritmos dançantes com letras que contam histórias de amor. Segundo Patrícia, criar letras para os jovens foi algo certeiro para o sucesso.

 

Cada grupo se identifica com um conceito estético e musical. A banda NCT é mais caracterizado pelo hip hop, Girls’ Generation apresenta um estilo romântico e a Vixx tem tendências mais soturnas. 


Nas letras, mistura-se o coreano com o inglês por diversos motivos. Além de muitas vezes não conseguirem expressar o que eles querem dizer através do coreano, os asiáticos têm o costume de estudar em países de língua inglesa e a maioria dos compositores são americanos. Mas principalmente usa-se o inglês para tornar os hits internacionais. 

 

Dança

Toda música lançada tem um MV ou um music video. E quase todo MV vem associado a uma coreografia que todos os fãs copiam, seja em casa ou nos seus grupos cover. As coreografias são sempre muito dançantes com um toque sutil de sensualidade. 

 

Jéssica, integrante do grupo cover de Kpop Fix2U há dois anos, gosta de postar vídeos das danças ensaiadas pela equipe no Youtube. O Fix2U que existe desde 2012, participa dos campeonatos mais importantes do segmento como o KDT (Kpop Dance Tournament), o KCC (Kpop Cover Challenge) e o KEC (Kpop Energy Cover) no qual ficaram em 1º lugar em 2017. 

 

Em contrapartida, Luana tem vontade de fazer parte de algum grupo cover. Mas mesmo não participando, põem em prática as danças em casa acompanhando inúmeras vezes os videoclipes.

 

Culinária

A culinária de uma região sempre incorpora elementos da cultura e a comida coreana não é diferente. Segundo as fãs entrevistadas, os pratos é muito apimentados, bem forte e temperados. Na cozinha coreana, come-se muita sopa e pouca carne que é muito caro no país. As refeições mais conhecidas são o Bibimpa que é composto por ovo, legumes e arroz e o Kimchi, iguaria de acelga com pimenta.

 

Luana admite que não gostava da comida asiática. Mas após entrar no mundo kpopper, ficou curiosa para conhecer. Depois de experimentar, mudou de opinião. Hoje, ela come sempre que pode.

 

A culinária sul-coreana é mais facilmente encontrada nos bairros Liberdade e Bom Retiro. 

 

Idioma

Pela vontade de se comunicar com os cantores e entender as letras das músicas, os kpoppers tentam aprender o coreano. Como consequência, a demanda dos cursos em São Paulo teve grande aumento.

 

Patrícia afirma que na visão dela esse é o fator que mais muda quando se torna fã de Kpop. Apesar de estudar coreano há cinco anos, ela alega que a língua é muito difícil e sabe o básico pra não ser desrespeitosa na comunicação com as bandas e seus empresários.

 

Por não usarem o alfabeto romano, os ocidentais têm mais dificuldades de aprender o idioma que apesar de ser mais fácil que o chinês, é mais complexo que o inglês. Primeiro tem que entender o símbolo de cada letra para depois aprender a escrita e pronúncia.

 

Mesmo assim, dá para aprender algumas palavrinhas através das músicas. Com isso, os fãs usam e abusam de expressões em coreano em suas conversas.

 

Hábitos

As três entrevistadas puderam conhecer por meio do Kpop costumes totalmente diferentes dos brasileiros. Jéssica comenta que “a cultura coreana em si é muito curiosa”. 

 

Patrícia tem contato direto com muito nativos e argumenta que a personalidade deles é bem distinta da nossa. Ela observa que os coreanos são pontuais, organizados e extremamente educados. E tais valores inerentes à sociedade deles são transpassados para as bandas. Os idols nunca expõem que namoram, fumam ou bebem, e devem mostrar um lado correto que influencie os jovens. No final dos shows, eles agradecem desde ao técnico de som até a equipe de limpeza com reverência. Patrícia comenta que “esse respeito é cultural” e trabalhar com eles a reeducou a ser mais organizada em sua vida pessoal e profissional. Por terem um lado mais pacato, os grupos estranham o primeiro contato com o calor dos fãs brasileiros, mas acabam se acostumando e até gostando da atenção.

 

Luana começou a assistir os programas de variedades e novelas coreanas e pôde conhecer mais sobre como agiam, o que comiam e como se vestiam. Outro hábito que ela aderiu foi usar o símbolo do coração com os dedos na hora de tirar fotos. 

 

Crescimento

A onda coreana, como é chamado o crescente sucesso dos sul-coreanos, é um gráfico que só cresce. Patrícia vê como um estilo musical que pode se igualar à fama das batidas norte-americanas. Ela acredita que a expansão em solos brasileiros se dá pela saturação dos sons americanos e a escassez de música pop no Brasil. O Kpop surge para suprir essa carência para os jovens. Também é possível ver a mudança de faixa etária dos fãs. Em seu começo, a idade dos admiradores era de 18 a 20 anos. Hoje eles cresceram e continuam acompanhando, mas agora o Kpop atrai os mais novos de 10 a 15 anos.

 

Mais do que um estilo musical, o Kpop é uma imersão na cultura coreana. Inspira jovens na forma como se vestem, o que comem, o que falam, com quem andam e o que fazem. “Eu falo até que é um estilo de vida. a pessoa muda totalmente o comportamento”, reitera Patrícia.

PalhaçA com A maiúsculo

Como as mulheres estão revolucionando o picadeiro



A palhaçaria como arte marginalizada tem poucos registros de seus primórdios. O que existe historicizado foi escrito por homens, sobre homens, para homens, visto que mulheres não eram bem-vindas na arte circense. O humor, assim como vários outros espaços, continua sendo dominado pelo sexo masculino. Porém, com a tomada de força do feminismo e a conquista de direitos, cada vez mais mulheres entram na palhaçaria visando não somente o espaço artístico, mas também o picadeiro como lugar de posicionamento político e social, fugindo da imagem banalizada e erotizada da mulher na lona. 

 

Daniela Biancardi, a palhaça Lígia Maria, é um conhecido nome no meio artístico. Ela é atriz, comediante e educadora da Escola SP de Teatro, ganhou o Prêmio Cláudia de Cultura em 2011 e foi a primeira palhaça brasileira a se deslocar para o exterior com o Palhaços Sem Fronteiras. Biancardi afirma que ainda existem barreiras para as mulheres, mas mesmo assim, elas abrem espaço e crescem quantitativamente na palhaçaria.

 

Essa mudança de protagonismo também traz novas narrativas ao meio. Muitas palhaças buscam retratar situações relacionadas diretamente com o universo feminino, como a maternidade, a menstruação e o machismo. São essas temáticas que vão diferenciá-las dos palhaços homens, já que as técnicas são as mesmas para ambos os gêneros. Daniela tem uma visão mais crítica quanto ao excesso de ativismo que, na sua opinião, acaba reforçando o papel da mulher na sociedade, mas também enxerga isso positivamente visto que antes eram assuntos deixados de fora da picadeiro e até mesmo de cursos e oficinas de palhaçaria. “O fato de eu escolher ser comediante já é um ato de resistência e feminista. Então eu sou uma palhaça feminista, não uma palhaça cujo os assuntos que eu venha tratar sejam unicamente femininos. Senão a gente vai ter que fazer número de coletor pro resto da nossa vida”, afirma a palhaça.

 

Para a comediante, agora que o aumento já é significativo e cada vez mais perceptível é necessário unir as palhaças e narrar e registrar o momento. Pois elas sempre existiram, mas como percebemos, há uma ausência de documentação. Contudo, nos dias de hoje, com o advento da internet e das redes sociais, o encontro e relato entre essas mulheres tornou-se muito mais fácil e acessível para as aspirantes. Um exemplo disso é a Escola de Palhaças, que é a primeira do segmento no Brasil, e o Encontro Internacional de Mulheres Palhaças que visam formar e aprimorar mulheres no território humorístico e discutir a presença feminina nesse espaço.  

 

Essa mudança de cenário e a crescente de mulheres na palhaçaria levanta discussões através da voz feminina que ecoa e promete trazer como felizes consequências o empoderamento, a sororidade e a reflexão do lugar da mulher não somente nas artes, mas na sociedade patriarcal como um todo.

De onde surgem os remédios?

Uma pesquisadora vai nos contar o longo processo de pesquisa que os medicamentos passam antes de chegarem às farmácias



Quando tomamos aquele remedinho para dor de cabeça não paramos para pensar em todo o estudo e trabalho por trás daquela cápsula. Mas o que é algo banal para nós requer um trabalho longo e minucioso de uma equipe inteira de profissionais de diversas áreas. A bioquímica e pesquisadora da área Lucilia Lepsch nos contou o passo a passo da produção de um medicamento e ainda falou um pouco sobre esse segmento aqui no Brasil. 

 

O estudo para a produção e comercialização de um remédio passa pelo total de 6 etapas. A primeira é a pesquisa que consiste basicamente no estudo da doença-alvo e na identificação de uma molécula que combata tal enfermidade. Depois vem os testes pré-clínicos onde são feitas avaliações in vitro e em animais para se certificar que aquela molécula é segura para ser testada em humanos. Já nessa etapa é apresentado um dossiê da pesquisa para comitês de ética em pesquisa e órgãos regulatórios, como a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), que futuramente irão aprovar o novo medicamento para ir para o mercado. As próximas três fases são estudos clínicos que já envolvem seres humanos. A Fase 1 verifica em um grupo de 10 a 100 pessoas sadias qual é a dose máxima tolerada pelo corpo humano. Na Fase 2 do estudo clínico, é possível averiguar a eficácia, segurança e a dosagem correta em 100 a 400 pacientes com a doença-alvo. Segundo Lucilia, é nessa fase que a maioria das substâncias em estudo são interrompidos por falta de eficiência. A terceira e última fase do estudo clínico visa comparar o produto final com com placebo e outros tratamentos para aquela doença, além de apurar as contraindicações e efeitos colaterais que vão para a bula. Essa é a fase em que conta com o maior número de pacientes: 400 a 4 mil pessoas.  O último estágio do processo consiste na aprovação de comercialização e registro da Anvisa que leva em conta a eficácia, segurança e qualidade do medicamento.  

 

Além dos milhares de pacientes que participam do desenvolvimento dessa nova medicação, também são envolvidos químicos, médicos, toxicologistas, farmacologistas, físicos computacionais e muitos outros profissionais das mais diversas áreas. E o procedimento inteiro leva em média 10 anos para o produto final chegar nas prateleiras, isso se não houver interrupção da pesquisa e do investimento financeiro. 

 

Lucilia Lepsch que tem 10 anos de experiência na Indústria Farmacêutica, atualmente trabalha como Especialista de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação na LIBBS que é uma empresa farmacêutica inteiramente brasileira. Com sua vasta experiência no mercado de pesquisas farmacêuticas no Brasil, a pesquisadora afirma: “poucos medicamentos são desenvolvidos no Brasil e quando desenvolvidos raramente chegam nas etapas clínicas. Sair do laboratório para os estudos clínicos em humanos requer muito dinheiro, estrutura operacional e necessidade de parcerias e o Brasil ainda está caminhando nesse aspecto”. Segundo a pesquisadora, o Brasil tem grande participação na Fase 3 do estudo clínico, contudo as outras etapas prosperam fora do país em empresas multinacionais. Mas mesmo com sua pequena participação, Lucilia é otimista e vê o crescimento brasileiro nesse setor nos últimos anos.

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